sábado, 20 de dezembro de 2008

Um jardim encravado na Serra da Ibiapaba

Desde pequena sempre nutri uma paixão inexplicável pelas borboletas. Queria porque queria criar uma, mas mamãe sempre me dizia que borboleta não se criava presa, então vi nas flores aliadas, pois elas sempre atraíam as lindas esvoaçantes. Recentemente, fiz uma viagem a uma cidadezinha aqui na Serra da Ibiapaba, chamada Viçosa, lá deparei-me com o cenário que narro de forma bastante superficial a seguir.

Sentir-se num jardim após subir a serra. Seria um jardim suspenso?!


Não, simplesmente uma cidade situada à 740 metros na Serra da Ibiapaba. Simples. Singela (a palavra-chave, também pudera!).

Essa é uma das sensações que tomam conta dos visitantes da pequena Viçosa do Ceará, que não é uma das sete maravilhas do mundo antigo, por mais que o trocadilho com as flores e a altitude possa imprimir esta lembrança. Ela é, sim, uma das cinco cidades mais antigas do estado e preserva de forma tão minuciosa sua essência.

Para alguns o preservacionismo da cultura viçosense se dá devido a cidade não ser corredor comercial. "O fato de Viçosa não ser entreposto de escoamentos de mercadorias, de não ser atravessada por BR, fez com que o povo daqui preservasse muitos de seus costumes, pois têm pouca intereferência cultural se comparada a algumas cidades vizinhas,o que dá todo o diferencial", frisa Nelson Cunha, gerente de um dos hotéis da cidade.

Viçosa é preciosista. É delicada. Assim como cada jardim que enfeita as casas, as janelas, as ruas e praças. Eles retratam um pouco da gente desse lugar, passando a calma e beleza das conversas, dos cumprimentos e do cuidadoso jeito de ser dos viçosenses.

Na cidade natal de figuras ilustres da história brasileira como Clóvis Beviláqua, General Tibúrcio e Marechal Bezerril, gente anônima dos livros, mas tão conhecida quanto esses ícones na cidade também completam o mosaico que compõe a florida Viçosa. Dona Ritinha é uma dessas personagens, que se confunde com a aura da cidade.


“Desde criança gosto muito de plantas. Essa é uma paixão que herdei da minha família. Nossas casas sempre tiveram jardins e muitas flores. Recordo que quando mocinha, eu e minhas amigas íamos à praça e ficávamos volteando ao redor do coreto da Igreja Matriz, que era repleto de roseiras...lindas! Elas enfeitavam o passeio onde as mocinhas desfilavam aos domingos”, rememora saudosa, Dona Ritinha.

Enquanto passeia pelo jardim, ela conversa como se falasse com uma velha conhecida fazendo questão de apresentar cada plantinha pelo nome. “Essa é uma bougainville. Aquela é uma jasmim. E das rosas, você já tirou fotos? Essa é uma perpétua, você conhecia? Minhas preferidas são as hortênsias, mas gosto de todas”, diz Dona Ritinha, enquanto arranca as folhas amareladas que insistem em permanecer presas aos galhos.

Por toda a cidade esse cenário se repete com suas peculiaridades e sutilezas. E para os amantes das flores, ou apenas amantes enamorados não há lugar mais propício do que um jardim chamado Viçosa, para contemplar o colorido que atrai a liberdade das borboletas e enfeitam os cabelos das turistas que relembram a infância ou de moradoras que parecem fazer isso rotineiramente.





Fotos:Tuyná Fontenele, Thaís Araújo e Moysés Castelo Branco

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Dona Bossa, sempre Nova

Essa Dona, que um dia foi uma moça, "coisa mais linda e cheia de graça, num doce balanço a caminho do mar" , este ano completa 50 anos. E eu encantada por ela como sou, precisava demonstrar minha alegria em vê-la tornar-se uma senhora com a mesma graça juvenil. Salve, salve, Dona Bossa!


“Ela é carioca”. Nasceu como uma típica garota de Ipanema, cheia de graça, de balanço e uma harmonia dissonante. Com sua poesia simples encantou o Brasil e o mundo. Em 2008, a Bossa Nova comemora seus 50 anos, com novas harmonias, melodias e variações em sua inconfundível batida.

O marco inicial desse movimento é a canção “Chega de saudade”, composta pela dupla inseparável Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e lançada na voz do baiano João Gilberto, no ano de 1958. A Bossa Nova surge a partir de uma necessidade de se fazer uma música diferente, intimista, refinada e ao mesmo tempo alegre e otimista.

Bossa é um jeito, maneira, um charme, é um “quê”, como insinuava a popular gíria carioca do final dos anos 50. Ela surge como fruto da urbanidade brasileira e provoca uma efervescência instrumental sem precedentes. Concentrou-se na zona Sul do Rio de Janeiro, seja nos apartamentos de Tom ou Nara Leão, seja pelos calçadões de Copacabana ou Ipanema; daí ser considerada por muitos como uma música elitista.

Nomes como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Eumir Deodato, João Donato, Nara Leão, João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes consagraram as letras e músicas dessa Bossa que influenciou músicos, compositores e arranjadores do mundo inteiro, tendo reflexos nas composições de artistas como Cazuza e Lobão, além de ser discotecada nas pistas eletrônicas de vários países, onde sucessos desde João Donato a Edu Lobo foram repaginados.

Para alguns estudiosos da música, o fim da Bossa se deu em 1965, quando Elis Regina cantando “Arrastão”, composição de Tom Jobim e Eduardo Lobo, ganhou o I Festival da Música Brasileira, da TV Excelsior, dando início a rotulada MPB.

Contudo, para outros a Bossa continua muito viva. O “samba diferente que ganhou o mundo”, ganhou também novas vozes, letristas e ritmistas, mas permanece com seu carisma e personalidade forte, os quais garantiram seu sucesso nesses 50 anos. Bebel Gilberto (filha de João Gilberto), Mariana Aydar, Clara Moreno, Roberta Sá e Bossacucanova são alguns dos nomes que figuram o cenário musical do que muitos chamam Nova Bossa.

De qualquer forma, ela “chegou, sorriu, venceu”, às vezes delicada e descompassada como os sambas de Tom, ou cheia de tons e contrapontos como os sons de Menescal. Encheu os dias de luz e fez festa no sol. A Bossa “é a chuva chovendo e conversa ribeira”. E agora, definitivamente, “Chega de saudade”, porque “para a poesia, a vida é alegria”.

Ah, Dona Bossa, “se todos fossem iguais a você, que maravilha viver!”